terça-feira, 31 de março de 2009

A Corrente da felicidade

Existe um “jogo” que de tempos em tempos costuma acontecer e que muitas pessoas não percebem que se trata da mesma coisa com uma “roupa” diferente. A base do negócio é simples: você investe um pequeno valor e envolve outras pessoas no “jogo”. Estas pessoas devolverão seu investimento e, procedendo de modo análogo, multiplicarão o retorno do mesmo. Em pouco tempo você estará rico. Trata-se de formação de uma bolha que, em algum momento, explodirá.Na década de 20 (“os anos loucos”) estava ocorrendo uma 2ª Revolução Tecnológica com intensificação do uso da energia elétrica e do petróleo e o conseqüente aumento da produtividade industrial. A Contabilidade ainda não tinha os princípios de padronização e de instrumentos de retenção lucros para reposição de ativos desgastados. Muitos demonstrativos contábeis não representavam a realidade das empresas e nem permitiam comparações.As empresas distribuíam lucros sem guardar parte para reposição de ativos. Novas empresas surgiam da noite para o dia e abriam seu capital na Bolsa. Empresas de radiodifusão tornaram-se o filé mignon da bolsa: pequenos ativos e expectativa de grandes lucros. Todos queriam participar dos ganhos das empresas. A lei da oferta e da procura aumentou o preço das ações a níveis irreais. A bolsa virou um cassino. O sistema financeiro estava direcionado para ganhos grandes e rápidos. A bolha estava formada e, em certo momento (outubro de 1929) estourou. Estudando a história percebe-se que fato já tinha ocorrido na Europa, na época dos grandes empreendimentos marítimos e foi denominado de “A bolha dos mares do Sul”.A desestruturação do sistema financeiro causou grandes conseqüências: corrida a bancos, estoques que não eram vendidos, falências, falta de crédito, fechamento de empresas e desemprego. Em 1930 o desemprego nos EUA era de 8,7%, em 1933 chegou a 24,9% , em 1938 ainda era 19%. A sociedade de consumo americana reduziu as importações de produtos como café, cacau, banana e outros, afetando, principalmente os países pobres exportadores desses produtos. Alguém já disse que quando “os Estados Unidos espirra o mundo fica doente”. Parece que é verdade, principalmente neste mundo excessivamente globalizado.Comparar o que aconteceu na Grande Depressão com o que ocorre agora é difícil ou mesmo impossível. Os acontecimentos atuais são outros. Naquela época o mundo econômico “andava muito devagar” em relação ao atual. A economia não tinha os conhecimentos e mecanismos de que tem atualmente. Os efeitos da crise duraram cerca de 15 anos. Hoje a economia dispõe de instrumentos que provavelmente reduzirão os efeitos da crise e o tempo de duração desses efeitos.Durante o governo de FHC foi utilizado um plano (PROER) para socorrer os bancos em crise na época e evitar uma corrida a bancos e o colapso do sistema financeiro. É o que o governo Obama está fazendo agora nos EUA. Não adianta culpar a rede bancária por ter entrado na “corrente da felicidade” e perdido. Infelizmente é necessário socorrer os bancos para que o principal sistema financeiro mundial não entre em colapso com repercussões mundiais catastróficas. É necessário que os mocinhos socorram os bandidos, senão todos sofrerão.Sabe-se que a economia americana é um sistema onde todo mundo deve a todo mundo.O crédito é fácil - pelo menos era- e o prazo para pagamento perde-se - o perdia -se- de vista.para mante um modo de viver americano é necessário demonstrar exuberância em todos os sentidos. Vê-se isso nos filmes. Com o crédito fácil e o longo prazo para pagamento as pessoas compraram mais do que poderiam ( desfrutar agora e pagar durante toda a vida) e o pior é que a lei da oferta e da procura funciona: mais gente comprando, os preços sobem e as dívidas aumentam. Os bancos financiam as aquisições e não ficam com os respectivos títulos. Eles renegociam os títulos, financiam novas aquisições e assim sucessivamente. É uma enorme"corrente da felicidade" que se arrasta com a globalização. Todo mundo entra na dança. Quando alguém não puder pagar, a corrente se quebra e vem o efeito dominó. Foi o que aconteceu.Quanto tempo a economia mundial vai levar pra se recuperar não se sabe. A expectativa é que dure bem menos do que quinze anos. Os entendidos mais otimistas falam que, já no final deste ano ou no início do próximo, a economia voltará a crescer. Outros dizem que ainda levará dois ou três anos. Os mais pessimistas dizem que levará mais tempo e ainda acontecerão guerras por causa da crise.

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